Por André Lima
Há quem morra de amores por um belo rally, aquele que beira os trinta segundos, com defesas plásticas, ressurreições, bolas de graça e fins apoteóticos. Costumo dizer, inclusive, que certos pontos, dado o sacrifício derramado em quadra, deveriam ser dobrados ou triplicados.
Para quem faz torcida por um dos times em disputa, o melhor mesmo é fechar logo a fatura. E não há nada melhor para isso do que o expediente de um bom saque. Um ace desqualificante que faça a arena tremer. E quantidade faz muita diferença.
Em seus primórdios, o serviço consistia em somente repor a bola em jogo, o saque por baixo. A partir do meio da década de 80, a chamada Geração de Prata surgiu batendo forte na bola e nomeou o trabalho como “Viagem ao Fundo do Mar” ou simplesmente “Viagem”. Apesar do crédito pela jogada ser dado ao agora técnico Renan Del Zotto, a atividade já era praticada desde os anos 60 por Jorge Mello Bittencourt, igualmente atleta brasileiro. Vale ainda citar o pirotécnico “Jornada nas Estrelas”, executado por Bernard, que fez várias bolas irem à estratosfera e dificultarem a recepção adversária no seu retorno ao ambiente terrestre. Outro saque que pode trazer resultados com a aplicação correta é o flutuante. A retirada do peso da bola pode ser traiçoeira para o encarregado de produzir um bom passe.
Na consequente evolução do jogo, o recurso virou um verdadeiro ataque nas mãos de especialistas. “O saque no voleibol é o primeiro fundamento, aquele pelo qual se inicia a partida. Ele é de suma importância, pois um saque bem executado leva dificuldade de armar uma jogada da equipe adversária, podendo resultar em ponto diretamente, o que chamamos de ace ou a uma bola chamada ”de graça”, que favorece armar uma bela jogada da equipe para efetivar um ponto. Se todos os atletas tivessem consciência do grau de importância do saque, treinariam mais e melhor, sem dúvida”, diz Cássia Mattos, atleta do Superset.
“Hoje, mais ainda no vôlei de alto nível, o saque virou um ataque. Eu passava coragem para os meus sacadores quando observava qualidade no meu atleta. A coragem abate o adversário. Se eu possuísse dois ou três jogadores com excelência no fundamento, nós acabávamos com o jogo”, revela o técnico Fred Esteves, atual coordenador das escolinhas do Clube Municipal e da Associação Atlética Light e comandante da equipe da AABB entre os anos de 1989 e 1992, tendo acumulado um vice-campeonato carioca em sua passagem.
Para corroborar as colocações anteriores da jogadora e do técnico, temos o exemplo do francês Earvin Ngapeth, do Modena, que anotou 12 aces em uma mesma partida do Campeonato Italiano da temporada 2018/2019, gerando um recorde histórico nessa liga.
No mês passado, o brasileiro Lucarelli cravou uma sequência de 11 saques seguidos, com 5 aces, permitindo que sua equipe, o Taubaté, obtivesse uma vantagem de 12 a 2 sobre o SESI.
Polina Rahimova, oposta da seleção nacional do Azerbaijão, também é outro azougue nesse fundamento. No voleibol asiático, a azeri chegou a ser eleita melhor atacante, melhor sacadora e melhor pontuadora da liga sul-coreana na temporada 2014-2015. Em outra ocasião, pelo Campeonato Japonês, a atleta chegou a anotar 59 pontos em uma partida, muitos deles de saque. Desde 2019, o SESI-Bauru conta com os préstimos da jogadora para desestabilizar as defesas adversárias, prova disso foi o último confronto com o SESC, que, embora vencido pelas cariocas, teve o caminho muito mais espinhoso por causa da jogadora transcontinental.
Os casos expostos são bastante ilustrativos e exibem a vantagem de ter um sacador letal em quadra. Outra característica que salta aos olhos é a velocidade dos golpes desferidos na bola. Radares são utilizados para a medição desse quesito. Não é incomum observar o deslocamento da bola alcançar velocidades entre 96 Km/h (Feminino) e 110 Km/h (Masculino). Não há recepção que saia ilesa de tamanha violência. No entanto, os golpes precisam ser mais apurados. Uma das críticas a já citada Rahimova e outros atletas é o perigo de desperdiçar o lance, largando uma bola na rede ou jogando além do limite da quadra. Confiança e observação do momento são dois itens que devem ser bem avaliados para a utilização do estilo de um jogador encarregado de um saque.
“Um das coisas que mais sinto falta na LIVERJ é de um saque viagem direcionado. Ainda não vi um sacador com essa habilidade”, afirma a campeã da Liga pelo Cia de Vôlei, em 2017, a técnica Tati Lima. O que é sabido é que a liga tem sacadores poderosos que sabem como acabar com uma partida. A esse rol pertencem Sofia (VoleiBarra), Marina Castro(De Mirim a Master), Silvia (CQV), André (Vôlei Barata), Nicolas (Expresso Carioca), Vinicius Petrutes (Maricá), Priscila, Cíndia e outros tantos que podem requisitar sua adição nesse texto.
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