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A REDENÇÃO DA DERROTA

POR ANDRÉ LIMA


Uma frase atribuída a Ayrton Senna dá a medida do que representa a derrota para o brasileiro. De acordo com o piloto, “o segundo colocado nada mais é do que o primeiro dos perdedores”. É uma visão que ressalta a máxima de que a história é contada somente pelos vencedores. Os perdedores não teriam direito a uma cadeira na mesa de celebrações e nem venderiam palestras motivacionais.


No entanto, eu penso que há derrotas e DERROTAS. Elementos como a entrega dos atletas, condições de jogo, fatores externos e julgamentos de terceiros, por exemplo, entram na conta que avalia a estatura de um revés. Embora esse texto não tenha a intenção de construir uma apologia da derrota, ele tem a função de revelar sua faceta de professora para quem saiba fazer um diagnóstico de uma queda.


FOTO: GISA ALVES

Rodrigo Farias, atleta e presidente do Expresso Carioca, time da LIGA B da LIVERJ, também confirma esse pensamento. “Existe mais de uma forma de digerir, de continuar caminhando após uma derrota. Tudo depende de como ela acontece. Se o time tiver sido aguerrido, combativo, tiver sido fiel às determinações de nosso treinador, uma derrota pode vir como uma agente de aprimoramento técnico. A derrota que pode ser triste é a que não traduz o espírito de luta da equipe“, sentencia o multihomem dos azulões de São João de Meriti.


A excelente série documental “Losers” (NETFLIX, 2019) é outro item que discorda da frase do ídolo brasileiro, pois aponta que as derrotas podem conduzir a outras vias. Personagens como boxeur Michael Bentt (ex-campeão mundial de boxe na categoria peso pesado), a patinadora artística Surya Bonaly e o jogador de basquete Jack Ryan, entre outros desportistas supostamente fracassados, provam que há vitórias que não são contempladas por medalhas ou troféus.


O pragmatismo apareceu em uma pesquisa realizada por mim nas redes sociais. O experimento atestou que o insucesso gera enjoos em nossas terras. A abordagem virtual deixou evidenciado que a maioria reage mal à derrota e o sentimento mais atrelado à situação adversa é a raiva. O aprendizado agonizou em nossa experiência.


Visando ter uma ótica mais direcionada sobre os efeitos da derrota no campo esportivo, eu busquei o auxílio da psicóloga Daniele Muniz, profissional com vastas observações nessa seara e em condições de temperatura e pressão nem sempre favoráveis. “A derrota é importante porque apresenta para o atleta os aspectos que precisam ser melhorados. De maneira geral, do ponto de vista psicológico, é importante não atribuir a vitória ao nosso autoconceito. O grande problema é quando os atletas condicionam o valor pessoal à derrota ou à vitória. Eu valho se eu consigo ganhar. Ou então, se eu sou um medalhista, eu sou um super-herói, sou uma pessoa muito boa, competente. Se eu não ganho, então eu não valho nada“, argumenta a psicóloga.


Ayrton Senna participou de 161 grandes prêmios na Fórmula 1, a categoria que o consagrou, para muitos, como o maior piloto de todos os tempos. Ele venceu 41 das provas que disputou e esteve 80 vezes no pódio (sendo segundo ou terceiro). A metade das vezes nem recebeu o gosto de escutar o estouro do champanhe. Nem por isso deixa de ser reverenciado como o grande campeão o que foi. E posso garantir que foram as derrotas que o ensinaram a caminhar antes de conseguir correr.

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